BYD pede que fornecedores baixem preços em meio disputa no mercado de carros elétricos
A maior fabricante de veículos elétricos (VE) da China quer pagar muito menos por peças de automóveis no ano novo, uma demanda que sinaliza que não há fim à vista para uma guerra de preços cruel nem para uma crise econômica marcada por salários mais baixos e perspectivas incertas.
A BYD, principal rival da Tesla, pediu a um fornecedor que reduzisse seus preços em 10% no ano que vem, em capturas de tela amplamente divulgadas de uma carta datada de terça-feira (26) e assinada por He Zhiqi, vice-presidente executivo da empresa sediada em Shenzhen.
“Em 2025, embora haja grandes oportunidades no mercado de VE, a competição de mercado também se tornará mais intensa, entrando em uma batalha decisiva e em rodadas eliminatórias”, ele escreveu.
“Para aumentar a competitividade dos carros de passeio da BYD, precisamos que toda a cadeia de suprimentos trabalhe em conjunto e continue a reduzir custos.”
A CNN entrou em contato com a BYD para comentar, mas não conseguiu verificar de forma independente a autenticidade da carta.
No entanto, na quarta-feira (27), Li Yunfei, gerente geral de marca e relações públicas da BYD, pareceu reconhecer a carta com uma publicação em sua conta verificada na plataforma de mídia social Weibo.
“Negociações anuais de preços com fornecedores são uma prática comum na indústria automobilística”, ele escreveu. “Nós definimos metas de redução de preços para fornecedores. Não é obrigatório, e todos podem negociar.”
Por 15 anos, o mercado de carros da China foi o maior do mundo.
Mas começando há dois anos, quando a Tesla iniciou uma guerra de preços cortando os preços de seus carros Model 3 e Model Y no país em até 9%, ele também se tornou o mais competitivo do mundo, com observadores chamando-o de uma “corrida de vida ou morte”.
Mais de 200 fabricantes de EV da China estão agora lidando com um enorme excesso de oferta, e especialistas preveem que muitas empresas menores não sobreviverão à competição feroz. Também não parece mais otimista para os fabricantes de veículos com motores de combustão interna.
Uma carta da Maxus, uma montadora da estatal SAIC Motor, que circulou online no início desta semana também pedia um corte de preço de 10%, citando a necessidade de “melhorar a sobrevivência” em meio a uma “situação complexa”. A CNN entrou em contato com a empresa para comentar.
“Os líderes de mercado (estão) dispostos a sacrificar margens para ganhar participação na corrida para um futuro elétrico”, disse Bill Russo, fundador da consultoria Automobility, sediada em Xangai.
“A BYD tem sido mais agressiva, pois busca alavancar sua cadeia de suprimentos verticalmente integrada e vantagem de custo para garantir seu domínio no mercado. Outros tentarão manter o ritmo.”
A competição contínua, a imposição de tarifas adicionais pela União Europeia e a incerteza sobre o potencial do governo Trump de desencadear uma guerra comercial global significam que os fabricantes de veículos elétricos da China podem ter pouca escolha a não ser cortar custos onde puderem, de acordo com Tu Le, diretor administrativo da Sino Auto Insights, uma empresa de consultoria.
“Isso significa que a guerra de preços … está realmente estressando o sistema”, ele disse. “E que até mesmo os mais poderosos OEMs estão se sentindo vulneráveis.”
OEM refere-se a fabricantes de equipamentos originais, um termo da indústria que descreve fabricantes de automóveis como Ford e General Motors.
A BYD é a maior fabricante de automóveis da China, comandando 16,2% do mercado geral de veículos nos primeiros 10 meses do ano, de acordo com a China Passenger Car Association. Ela teve 36,1% do mercado de EVs no mesmo período.
Uma grande preocupação era que os cortes de preços “esticariam demais os fornecedores”, acrescentou Le, já que eles “normalmente são uma fração do tamanho dos OEMs e não têm acesso ao capital como os OEMs”.
A preocupação com o impacto dos cortes de preços no sustento das pessoas durante uma crise econômica fez da BYD um dos principais tópicos de tendência no Weibo na quinta-feira (28), com um total de 19 milhões de visualizações.
Comentaristas especularam que vários fornecedores na indústria automobilística inevitavelmente teriam que cortar salários em um mercado de trabalho já sombrio no ano novo.
“Explorar a cadeia de suprimentos é sua melhor habilidade, não tratar funcionários de base como humanos”, dizia uma publicação com mais de 1.000 curtidas.
As ações da Chongqing Sulian Plastic, uma fornecedora da BYD que vende tubulações de combustível e outras peças automotivas, caíram mais de 3% em duas sessões de negociação esta semana desde o surgimento da carta.
Outra fornecedora, a Alnera Aluminium, que fabrica peças de liga de alumínio para sistemas de bateria de EV, viu suas ações caírem 4% no mesmo período.
Entenda por que os juros caem nos EUA e sobem no Brasil