Como investidores devem se posicionar com juros subindo no Brasil e caindo nos EUA

Como investidores devem se posicionar com juros subindo no Brasil e caindo nos EUA

Com as mudanças nas taxas praticadas no Brasil e nos Estados Unidos, o diferencial entre os juros dos dois países aumentou em 0,75 ponto percentual.

O valor pode parecer pequeno, mas analistas ouvidos pela CNN apontam que a variação não só é significativa, como deve mexer com os investimentos do Brasil e do mundo.

“O diferencial de juros sofreu um aumento significativo. Desse modo, o Brasil vai ficar mais atraente para o capital financeiro no curto prazo”, aponta José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos.

Na chamada superquarta (18), o Banco Central (BC) e o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) tomaram suas decisões de política monetária, mas com direções opostas.

Enquanto os juros norte-americanos foram cortados em 0,5 ponto percentual, caindo para a banda de 4,75% a 5%, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou por elevar a taxa Selic em 0,25 ponto, a 10,75%.

A seguir, os analistas ouvidos pela CNN orientam e dão dicas de como o investidor deve se comportar nesse momento.

No que investir com juros mais altos no Brasil e menores nos EUA?

De imediato, isso ainda não significa que os ganhos do investidor que coloca seu dinheiro nos EUA perderam valor. A tendência é que o Fed dê continuidade aos cortes à medida que a inflação norte-americana converge à meta de 2%.

Mas Paula Zogbi, gerente de research e head de conteúdo da Nomad, relembra que as taxas de lá seguem num patamar historicamente elevado para o país.

“Vale agora alongar parte dos vencimentos para capturar os próximos cortes de juros, mantendo um percentual em liquidez para aproveitar oportunidades” diz.

“Com relação às ações, o corte de juros tende a ser benéfico para segmentos como small caps [empresas menores], empresas de crescimento e o setor imobiliário, que paralelamente pode se beneficiar de medidas governamentais para estimular o crédito residencial”, aponta Zogbi.

Contudo, a analista da Nomad relembra que o mercado tem tido reações bruscas em relação a potenciais sinais de desaceleração da economia norte-americana. Por tanto, o investidor deve seguir cauteloso.

“Considerando os setores mais descontados da bolsa americana, é interessante manter uma parcela da carteira em companhias mais defensivas, como o segmento de utilities [serviços básicos] e a velha economia”, avalia ela.

Ainda assim, os olhos dos investidores estrangeiros começam a se deslocar dos EUA dos juros mais altos para países emergentes com grandes diferenciais.

O objetivo é buscar lucro com essa diferença nas taxas de juros praticadas entre os países. O investidor busca transformar o dinheiro “mais barato” — obtido com juros menores — na moeda do país com juros mais altos para aplicar em um ativo local.

O resultado: uma remuneração maior por conta dos juros elevados.

“Isso tende a trazer um fluxo de dólar maior para o Brasil, favorecendo o real pela lei da oferta e da demanda. Enquanto a renda fixa daqui subiu, a dos Estados Unidos caiu. Há uma migração para os emergentes, para manter uma taxa de retorno atrativa”, explica Charo Alves, especialista da Valor Investimentos.

E o mercado já vem trabalhando com a expectativa por esse diferencial de juros que tende a favorecer o Brasil. Isso se reflete principalmente no câmbio.

Na sexta-feira (20), o dólar fechou em alta de 1,84%, negociado a R$ 5,521 na venda. Porém, até então, a moeda vinha de uma sequência de sete quedas seguidas. Assim, mesmo com os ganhos do pregão, a divisa norte-americana fechou a semana em queda de 0,83%.

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Mas com os juros altos no Brasil, o investidor pode sofrer reveses, aponta Thais Zara, economista sênior da LCA Consultores.

“A bolsa pode acabar sendo prejudicada pela percepção de que os juros mais altos vão desacelerar a atividade econômica do país”, avalia Zara.

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“A queda do índice Ibovespa após o aumento da taxa Selic está relacionado ao simples fato de que com uma taxa de juros maior, as empresas dão menos lucro”, aponta Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.

Além disso, há uma percepção de risco elevada no Brasil por conta do alto endividamento do setor público, o que tende a prolongar a inflação e os juros elevados.

Renda fixa ganha mais atração

Então, que tipo de investimento deve-se procurar nesse momento? A resposta está em ativos mais seguros, em especial os de renda fixa.

“A renda fixa fica mais atrativa, uma boa carteira vai ter uma posição mais conservadora, adotando um mix com peso bom nela”, afirma Charo Alves.

Os ativos de renda fixa são aqueles cujos retorno são previamente definidos por taxas fixadas ou variáveis. Tesouro Direto, Certificados de Depósito Bancário (CDBs), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) são alguns dos principais investimentos dessa categoria.

A principal indicação do especialista da Valor Investimentos está nos CDBs. Esse tipo de título consiste em você emprestar dinheiro a um banco em troca de remuneração.

Evandro Buccini, sócio e diretor de gestão de crédito e multimercado da Rio Bravo Investimentos, destaca que o Brasil tem uma alternativa de investimentos que não é muito comum em outros países, mas que tende a elevar seus ganhos com a alta da Selic: títulos com juros pós-fixados.

“São títulos que aumentam retorno quando a taxa de juros sobe, que ganham competitividade. Esse investimento é muito fácil de recomendar nesse cenário. Já era bom e vai ficar melhor. No Brasil é fácil de encontrar”, indica Buccini.

Esses títulos possuem juros variáveis, cuja definição depende do desempenho de indicadores econômicos como o IPCA, o IGP-M ou a própria Selic.

Mas caso o investidor tenha um perfil mais arrojado e ainda busque bancar seus rendimentos com ações, os analistas também orientam quais são as melhores opções neste cenário.

“O movimento é de cautela, se fosse colher ativos, seria bom buscar empresas mais consolidadas. Geralmente é onde o investidor estrangeiro coloca dinheiro. Petrobras, Vale, Gerdau, empresas de energia e saneamento são as mais seguras e onde deve ter maior fluxo no mercado de ações”, indica Alves.

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Matheus Augusto

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