É cedo para falar em inflação global após alta do petróleo, dizem analistas
A escalada das tensões no Oriente Médio após o Irã lançar centenas de mísseis contra Israel coloca os mercados em alerta pelo risco de alta da inflação global a reboque de uma possível disparada do petróleo.
Apesar da tensão inicial, analistas ouvidos pela CNN pontuam que ainda é cedo para falar em riscos mais amplos. Para eles, o cenário de alta generalizada dos preços depende de como os desdobramentos do conflito irão incidir sobre a produção e distribuição do petróleo na região.
O temor de uma guerra aberta fez a cotação do petróleo disparar 5% nessa terça-feira (1º), para depois perder força com a confirmação do fim dos ataques.
O tipo Brent — usado como referência na maior parte do mundo —, ganhou 2,59%, a US$ 73,56 o barril. Já o preço do WTI subiu 2,44%, a US$ 69,83.
O Irã é o nono maior produtor de petróleo do mundo, com fatia de 4%, segundo dados da Administração de Informação Energética (EIA, na sigla em inglês), do governo dos Estados Unidos.
A região, porém, concentra outros grades participantes do mercado: Arábia Saudita (11% da produção global), Iraque (4%) e Kuwait (3%).
Rodrigo Marcatti, economista e CEO da Veedha Investimentos, pontua que a tensão entre os dois países precisaria escalar para níveis maiores para gerar impactos no mercado global.
Como exemplo, ele cita um possível fechamento do Estreito de Ormuz — corredor marítimo que divide o Irã e os Emirados Árabes Unidos —, responsável pelo escoamento de 21% do petróleo global.
“Precisaria de fato afetar a produção e o abastecimento global para ter um choque de oferta, e então isso gerar pressão maior sobre os preços”, explica Marcatti.
Os analistas pontuam que picos nas tensões já ocorreram em ocasiões semelhantes nos últimos meses, e que posteriormente o temor de contaminação global dos preços não se concretizou.
Em abril, o Brent operou nas máximas do ano e chegou a superar a marca de US$ 90, também impulsionado por possíveis riscos da ampliação do conflito na região.
Gino Olivares, economista-chefe da Azimut, ressalta que o ruído visto nos mercados já era esperado diante da predominância do Oriente Médio na oferta do petróleo.
O economista, no entanto, afasta a tese de contaminação nos preços diante das recentes quedas do petróleo, com sinais de aumento da produção, receios com a economia na China, entre outros pontos.
O contexto fez a cotação atingir a mínima do ano em setembro, performando abaixo de US$ 70 o barril.
“O cenário era mais para excesso de oferta do que oferta de demanda”, diz.
Rodrigo Cohen, co-fundador da Escola de Investimentos, também descarta a possibilidade de que o cenário no Oriente Médio leve a uma possível reversão do ciclo de cortes dos juros nos Estados Unidos.
Ele cita a fala do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, que nesta segunda-feira (30) indicou desaceleração no corte das taxas após redução de 0,5 ponto. Para Cohen, o Fed pode estar incluindo na trajetória de juros um eventual agravamento dos conflitos no Oriente Médio.
“Talvez seja um pouco mais lenta esta queda se a guerra for mais longa”, pontua.
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