Quais os impactos de Trump na economia do Brasil?

Quais os impactos de Trump na economia do Brasil?

A política comercial que será adotada por Donald Trump como presidente dos Estados Unidos segue em destaque no radar de preocupações da economia mundial.

Empossado nesta segunda-feira (20), o republicano voltou a sinalizar que irá “estabelecer tarifas e impostos sobre os outros países para enriquecer os nossos cidadãos”.

O impacto de uma política tarifária mais dura nos EUA seria de redução nas exportações ao país, e essa é uma preocupação que também é compartilhada pelos brasileiros.

“Duvido que o Brasil escape de receber restrições na exportação de produtos metalúrgicos e siderúrgicos [por exemplo]. Já teve esboço disso no primeiro [mandato de] Trump, e agora vai vir pra valer”, avaliou ao CNN Money Otaviano Canuto, ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e ex-vice-presidente do Banco Mundial.

“Quando Trump fala em estrangeiros pagarem as tarifas em compensação por outros benefícios que a economia americana concede, tenho uma suposição de que, na hora que a tarifa é implementada, tem uma valorização do dólar que mantém o preço em dólar do produto importado. O ônus acaba sendo sobre o exportador, que recebe bem menos do que sem as tarifas.”

Inflação e juros

Ainda restam dúvidas sobre a maneira como será de fato a política comercial adotada por Trump. O presidente dos EUA planejava algo em torno de 100 novos decretos para sua posse, porém sem se direcionar à questão tarifária.

Ainda assim, algumas consequências da aplicação dessas cobranças parece clara aos economistas. “O mais provável é que as tarifas levam a choques de preços domésticos”, disse o ex-vice-presidente do Banco Mundial.

O efeito direto de uma inflação persistente no país seria de o Federal Reserve (Fed) ter que manter prolongar o período de juros altos.

As autoridades do banco central norte-americano já sinalizam que estão em alerta para os impactos da política do republicano.

“A redução do Fed não vai ocorrer na mesma velocidade que ocorreria com um governo democrata. Isso impacta em investimentos, capital migra para esses países que pagam mais”, afirmou pontuou Joelson Sampaio, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Balança comercial

Em 2024, o Brasil superou pela primeira vez a marca de US$ 40 bilhões em exportações aos EUA. Apesar de ainda deficitário, o resultado mostra aumento de ganho do lado brasileiro.

No ano passado, o saldo ficou negativo em US$ 253 milhões, ante US$ 1 bilhão em 2023 e US$ 14 bilhões em 2022.

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A maioria dos exportados são bens oriundos da indústria de transformação — como produtos de ferro e aço —, equipamentos e partes de aeronaves, além de celulose.

O setor é responsável por 78% das vendas aos EUA. Petróleo — o item mais vendido, com 14% das exportações —, combustíveis e café também figuram entre os principais destaques.

É nestes números onde os economistas ouvidos pela CNN apontam os principais impactos de um novo governo Trump.

“Os Estados Unidos são um parceiro muito estratégico para o Brasil. A dificuldade de exportarmos será o impacto mais direto [de sua política comercial]”, pontuou Sampaio.

China

Sampaio ainda destaca um potencial impacto indireto das tarifas de Trump. Neste caso, a China é peça central na medida.

Em 2024, o gigante asiático foi responsável por 28% das exportações do Brasil.

O republicano já havia anunciado anteriormente que pretendia taxar os produtos oriundos do país asiático, numa escala ainda mais dura que a pensada para outras economias.

Caso o plano acabe vigorando, avalia-se a possibilidade de esfriamento na economia chinesa — refletindo no Brasil.

“Se a China exporta menos para os Estados Unidos, vai demandar menos produtos do Brasil, uma vez que a economia desacelera. São impactos indiretos, mas uma política desse tipo não teria impacto só local, impactaria a balança do Brasil com outros países também”, pontuou o economista da FGV.

Outro alerta que os economistas acendem é o de se instalar uma guerra comercial entre os EUA e os países alvo de suas taxações.

“Esse jogo de ação e retaliação, é uma disputa que, no limite, leva à perda de todo mundo, mesmo que no curtíssimo prazo os Estados Unidos pareçam ganhar”, afirmou Otaviano Canuto ao CNN Money.

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Matheus Augusto

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