Nissan desiste de fusão com Honda e abandona acordo de US$ 60 bi

Nissan desiste de fusão com Honda e abandona acordo de US$ 60 bi

A Nissan deve encerrar as negociações de fusão com a rival Honda, afirmou uma fonte nesta quarta-feira (5), abandonando uma parceria avaliada em mais de US$ 60 bilhões que criaria a terceira maior montadora do mundo e levantando dúvidas sobre como a empresa conseguirá promover sua reestruturação sozinha.

As negociações foram dificultadas por divergências crescentes entre as duas montadoras japonesas, segundo duas pessoas a par do assunto, que pediram anonimato por não estarem autorizadas a falar com a imprensa.

As ações da Nissan caíram mais de 4% na bolsa de Tóquio, que chegou a suspender temporariamente a negociação dos papéis após uma reportagem do jornal Nikkei afirmar que a empresa desistiria do acordo.

As ações da Honda continuaram sendo negociadas e fecharam o dia em alta superior a 8%, sinalizando um aparente alívio dos investidores.

O desdobramento das negociações reforça incertezas sobre como a Nissan, que está no meio de um plano de reestruturação e pretende cortar 9 mil funcionários e reduzir 20% de sua capacidade global, conseguirá superar sua mais recente crise sem apoio externo.

Honda, segunda maior montadora do Japão atrás da Toyota, e Nissan, a terceira, anunciaram em dezembro que estavam negociando para criar a terceira maior montadora do mundo em vendas, buscando fortalecer suas operações em um setor ameaçado pela chinesa BYD e por outras fabricantes de veículos elétricos.

A Reuters já havia informado que a Nissan poderia desistir das conversas depois que a Honda sugeriu transformá-la em uma subsidiária. A Nissan resistiu à proposta, pois isso contrariava o conceito inicial de uma fusão entre iguais, disse uma fonte.

Em comunicados separados, Nissan e Honda afirmaram que a reportagem do Nikkei não era baseada em informações divulgadas oficialmente pelas empresas e que pretendem definir os rumos da parceria até meados de fevereiro, quando farão um anúncio.

A Honda, cujo valor de mercado é de aproximadamente 7,92 trilhões de ienes (US$ 51,9 bilhões) – mais de cinco vezes superior ao da Nissan, de 1,44 trilhão de ienes –, estava cada vez mais preocupada com o progresso da rival menor em seu plano de reestruturação, disse uma segunda fonte.

As negociações também ocorrem em meio a incertezas sobre possíveis tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos. Taxas sobre importações do México impactariam mais a Nissan do que a Honda e a Toyota, segundo analistas.

“Os investidores podem ficar preocupados com o futuro da Nissan e sua reestruturação”, afirmou Vincent Sun, analista da Morningstar, acrescentando que a Nissan tem maior exposição ao risco de tarifas entre EUA e México do que Honda e Toyota.

Controle

A Nissan tem sido mais afetada do que algumas concorrentes pela transição para os veículos elétricos, sem nunca ter se recuperado totalmente após anos de crise desencadeados pela prisão e destituição de seu ex-presidente Carlos Ghosn em 2018.

“A informação de que a Nissan não queria se tornar uma subsidiária da Honda sugere que a questão do controle foi um ponto crítico”, disse Christopher Richter, analista do setor automotivo no Japão da corretora CLSA.

“Sem poder assumir o controle, a Honda parece estar desistindo do acordo.”

A Renault, parceira de longa data da Nissan, havia sinalizado que estaria aberta à fusão em princípio. A montadora francesa detém 36% da Nissan, sendo 18,7% por meio de um fundo fiduciário na França.

Inicialmente, Nissan e Honda planejavam definir os rumos da integração até o fim de janeiro, mas postergaram a decisão para meados de fevereiro.

Fontes disseram à Reuters no mês passado que a Mitsubishi Motors, parceira menor da aliança da Nissan, que chegou a considerar aderir à fusão, pode desistir da ideia.

México criará fabricante de veículos elétricos de baixo custo até 2026

Matheus Augusto

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *