Desafio do Enjoei: entrar no mercado de lojas físicas

A compra de 25% da Cresci e Perdi, considerada uma das maiores redes de franquias de produtos infantis de segunda mão no Brasil, pelo Enjoei – empresa brasileira de comércio eletrônico que oferece soluções de consumo colaborativo – agitou o mercado nos últimos dias de 2023.

O anúncio detalha uma transação de R$ 30 milhões inicialmente, e o contrato celebrado entre as duas empresas tem vigência entre 2023 e 2027. Mas o que chama atenção é a cláusula de garantia da opção de aquisição do controle da companhia até 2028, com valores finais ajustados de acordo com as metas de ambas as partes. A aquisição é a segunda feita pelo Enjoei no ano — em julho, a empresa adquiriu a plataforma de produtos autorais Elo7.

Na opinião de Eduardo Yamashita, COO da consultoria Gouvêa Ecosystem, a aquisição é muito interessante porque as duas empresas têm atuações e competências muito complementares.

“A Cresci e Perdi ganha do Enjoei a agilidade on-line, que não tinha, por não atuar com e-commerce até agora. As lojas também devem servir como ponto de apoio para a malha logística do Enjoei, que hoje tem 11 pontos entre Correios e Jadlog”, explica. “Já o Enjoei começa a atuar em lojas físicas e em franquias, o que deve acabar sendo uma troca bem interessante. Essa integração profunda de canais tende a dar muito certo.”

Segundo o Enjoei, a aquisição é um marco estratégico importante para a empresa ao fortalecer o portfólio da companhia e ampliar o modelo de negócio para novos canais, convergindo o mundo físico e o digital.

Tiê Lima, CEO do Grupo Enjoei, disse que a marca está avançando de forma eficiente para se consolidar em um mercado fragmentado e com alto potencial de crescimento.

“Esse passo estratégico fortalece o portfólio de negócios do Enjoei que, a partir do primeiro trimestre de 2024, também expande sua atuação com a sua estreia em lojas físicas, no mercado de usados em moda adulta”, afirma a empresa, em fato relevante enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

Já Eliane Alves, fundadora da Cresci e Perdi, espera coisas boas com essa troca de experiências entre as marcas, já que uma está entrando no mercado físico e a outra, no on-line.

‘RESALE’

O mercado de “resale” já é uma tendência forte nos Estados Unidos e Europa há cerca de oito anos. No Brasil, tem apresentado um crescimento bastante significativo nos últimos anos.

Yamashita defende que, “à medida que mais consumidores buscam alternativas sustentáveis e econômicas para renovar seus armários, a demanda por itens de moda de segunda mão deve aumentar. E, com isso, o interesse de marcas e dos varejistas por este segmento também.”

De acordo com projeção do Instituto de Economia Gastão Vidigal da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), as vendas em brechós tiveram uma alta de 29,6% em 2022.

A Cresci e Perdi foi fundada em 2014 por Elaine Alves quando seu primeiro filho nasceu. Atualmente, há 550 lojas negociadas e 434 em operação, com vendas exclusivamente off-line. A marca afirma ter atendido mais de 4 milhões de clientes em 2023, e projeta encerrar o ano com faturamento de R$ 700 milhões.

A rede experimenta um crescimento exponencial, com a abertura, desde 2021, de 130 novas unidades físicas a cada ano, em média. A empresa opera a partir do modelo de negócios asset light (estratégia de redução de custos que busca manter apenas no que é essencial à operação), baseado no recebimento de royalties.

Em recente entrevista ao Diário do Comércio, o diretor de expansão e operações da Cresci e Perdi, Saulo Alves, disse que, atualmente, cerca de 60% da rede é operada por multifranqueados. A marca trabalha com formatos de investimentos que variam de R$ 129 mil, para cidades a partir de 40 mil habitantes, e até R$ 420 mil, para municípios com mais de 100 mil habitantes.

Para o consultor de negócios Josemar Duarte, os franqueados da Cresci e Perdi podem ser beneficiados com a aquisição pelo Enjoei. “Além de poder vender on-line, que é algo que eles não podiam, agora é esperado que os franqueados diversifiquem os negócios abrindo unidades do Enjoei.”

AQUISIÇÃO FUTURA

A aquisição da Cresci e Perdi pelo Enjoei prevê a opção de compra do restante do capital social em 2028, diante de reajustes e uma parcela adicional com base no resultado operacional até 2027. Também há a opção de venda da fatia adquirida agora pelo Enjoei.

A conclusão da transação está prevista para acontecer dentro dos primeiros meses de 2024. O Enjoei terá direito de voto afirmativo em assuntos patrimoniais e estratégicos da Cresci e Perdi, além da indicação de membros para o conselho de administração. Já os atuais sócios da Cresci e Perdi continuarão à frente da gestão do negócio.

PREJUÍZOS

A plataforma Enjoei vem registrando, nos últimos trimestres, prejuízos em seus resultados financeiros. No terceiro trimestre de 2023, reportou um prejuízo líquido consolidado de R$ 23,051 milhões, uma piora em relação às perdas líquidas de R$ 10,180 milhões de 2022.

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ficou negativo em R$ 22,260 milhões, ante desempenho negativo de R$ 13,509 milhões na comparação anual. O Ebitda ajustado foi negativo em R$ 8,866 milhões, ante cifra negativa de R$ 9,578 milhões.

A receita líquida cresceu 49,6%, passando de R$ 36,6 milhões para R$ 54,8 milhões. O lucro bruto, por sua vez, teve alta de 106,4%, crescendo de R$ 13 milhões para R$ 27 milhões, assim como a margem bruta, que avançou de 35,9% para 49,6%, com alta de 13,6 pontos percentuais. Segundo a empresa, os números do balanço foram positivamente impactados pela aquisição da plataforma Elo7, que se juntou à operação em 10 de agosto último.

Para Yamashita, é normal uma startup como o Enjoei, que já completou três anos listada na B3, apresentar prejuízos após a abertura de capital. “Como há dinheiro para queimar, é normal isso acontecer por ser uma fase em que as empresas aproveitam para aumentar sua base de clientes. Eles compraram o Elo7, e agora a Cresci e Perdi, já projetando um crescimento futuro e recuperação do valor.”

O consultor ainda dá exemplos como o da Amazon, que só passou a ser lucrativa há cerca de quatro anos, ao ganhar mercado. “É um cenário desafiador, mas se a empresa tem um planejamento consistente e com riscos mapeados, não é um problema”, finaliza.

Fonte: Diário do Comercio

Imagem: Will Chaussê/DC

Matheus Augusto

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