Dólar: economistas citam cenário incerto e não veem continuidade de quedas
O dólar deve se manter no patamar de R$ 5,80 ao longo de 2025, apesar do recente arrefecimento da moeda entre janeiro e fevereiro, de acordo com economistas ouvidos pela CNN.
A colunista do CNN Money, Solange Srour, classifica como frágil a aparente estabilidade do câmbio após os picos observados no fim do ano passado e, em sua avaliação, a queda do dólar está relacionada essencialmente a fatores externos.
“Não foi um evento doméstico, a aprovação de um pacote fiscal que mudou a percepção dos agentes aqui. […] Me da medo talvez essa estabilidade que não é muito segura”, disse.
Entre os motivos que levaram à queda está o tom mais brando do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre as medidas tarifárias adotadas.
Desde 22 de janeiro a divisa norte-americana voltou a fechar abaixo de R$ 6, após ficar mais de um mês acima da cotação e atingir o patamar de R$ 6,30.
Na última sexta-feira (7), o dólar encerrou a sessão cotado a R$ 5,79, com recuo de 0,7% na semana. No início do mês a moeda chegou a recuar para o menor patamar desde novembro, quando caiu a R$ 5,77.
Paloma Lopes, economista da Valor Investimentos, explica que as posturas de Trump afetam os movimentos de cotação do dólar. Com isso, a moeda continuará oscilando conforme o presidente americano implementar sua política comercial.
“Novas tributações ou medidas extremamente protecionistas vão afetar o dólar a todo momento. É um fato que não se pode negar o peso.”
As tarifas impostas sobre o Canadá, China e México não são surpresa para o mercado, uma vez que se tratavam de propostas de campanha do republicano.
Na campanha eleitoral, a promessa era de tarifa de 60% sobre os produtos importados da China e uma tarifa de 10% a 20% sobre os produtos de outros países. A realidade é que o país asiático foi taxado em 10% e, até o momento, somente Canadá e México foram taxados – e tarifas já foram suspensas.
“A amenização no discurso protecionista já foi o suficiente para reduzir a preocupação do mercado e impulsionar moedas emergentes”, destaca Cristiane Quartaroli economista chefe do Ouribank.
Quartaroli destaca também que aspectos internos, como uma não piora no cenário de políticas fiscais, ajudaram a reduzir a cotação da moeda americana.
Um desses fatores seria a alta do juros brasileiro, que atualmente está no patamar de 13,25% ao ano após aumento de 1 ponto percentual em janeiro pelo Banco Central (BC).
“Esse aumento da Selic ante um baixo juro americano faz com que o capital acabe sendo atraído para o Brasil, o que favorece a queda do dólar.”
Beto Saadia, diretor de Investimentos da Nomos, reforça que o aumento da Selic, para frear a inflação, junto com uma sinalização referente a situação fiscal no Brasil contribuem para o recuo do dólar.
“Houve afirmações positivas sobre o compromisso fiscal no país. Nada concreto, mas sinais de comprometimento com a meta de inflação e com o arcabouço fiscal. Declarações que vieram desde o presidente Lula, que mudou de tom, até o novo presidente da Câmara, o Hugo Motta.”
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou em entrevista exclusiva à CNN que vê com “muita preocupação” o assunto.
No mercado, a expectativa é de um câmbio a R$ 6 em 2025. A previsão consta no último Boletim Focus, pesquisa do Banco Central (BC) que coleta projeções do mercado financeiro para a economia.
O temor com o cenário fiscal no Brasil continua elevado. Um dos principais pontos de atenção é a inflação, que segue tendo suas projeções revisadas para cima e deve encerrar o ano em 5,5%, portanto, acima do teto da meta.
Além disso, o mercado também teme pela trajetória da dívida pública e os impactos das contas públicas nos ativos financeiros.
No governo, as apostas são de que a queda do dólar possa arrefecer a inflação, principalmente o preço dos alimentos e combustíveis. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, assim como outros integrantes reforçam essa expectativa.
Além da queda do dólar, o Haddad afirmou que a política de reajuste do salário mínimo e a atualização da isenção da tabela do Imposto de Renda vão melhorar o poder de compra da população e, consequentemente, contribuir para controlar os preços dos produtos alimentícios.
Na terça-feira (11), parte dessas expectativas poderão ser esclarecidas, já que o IBGE divulga a inflação de janeiro. No mercado, a expectativa é de que o IPCA avance 0,20% no período.
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