Fiscal continua sendo principal empecilho para queda dos juros, dizem economistas
O Banco Central (BC) elevou a taxa básica de juros, a Selic, para 12,25% ao ano, um aumento de 1 ponto percentual. A decisão, tomada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), foi mais agressiva do que o esperado por parte do mercado, que projetava uma alta de 0,75 ponto percentual.
Em entrevista à CNN, Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, analisou a decisão e suas implicações. Segundo ela, o cenário mais adverso e a desancoragem das expectativas inflacionárias foram as principais razões para a elevação no ritmo de alta dos juros.
No comunicado, o Copom destacou que o anúncio do pacote fiscal foi um dos principais pesos que deteriorou o momento.
As medidas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foram apontadas como insuficientes para estabilizar a dívida pública. Além disso, a avaliação é de que o governo errou ao anunciar uma proposta de renúncia fiscal – a isenção de Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil por mês – em paralelo ao pacote de contenção.
Desse modo, ao ser questionada sobre o que o poder público poderia fazer para criar condições para a redução da taxa de juros, Vitória enfatizou a importância da política fiscal.
“Se a gente tiver, por exemplo, a aprovação das medidas de cortes, medidas de cortes mais robustas e a gente tiver uma execução fiscal mais controlada nos próximos meses, indicando que o governo está mais comprometido com a meta de zerar o déficit e também com uma meta de ajuste fiscal de mais longo prazo, a gente pode voltar a ver as expectativas de inflação sendo controladas”, afirmou.
Nota-se que, enquanto os juros seguem subindo no Brasil, os Estados Unidos passam por um momento de suavização da política monetária.
O diferencial de juros entre as duas pontas poderia atrair mais investimentos para o Brasil – cujos retornos mais elevados deveriam ser mais atrativos ao investidor -, de modo a valorizar o câmbio nacional. O movimento conhecido como carry trade, porém, não se concretizou.
Paulino Rodrigues, CFO do Banco Mercantil, ressalta o peso do cenário fiscal para a desvalorização recorde do real observada nos últimos dias.
“O que atrapalhou e tem atrapalhado é a indefinição da questão fiscal. Matematicamente falando, quando aumenta o diferencial de juros, deveríamos ter visto uma valorização do real. Mas o ambiente está muito ruim e tem atrapalhado os efeitos esperados”, diz Rodrigues.
Perspectivas futuras e impactos econômicos
Rafaela Vitória destacou que o BC sinalizou a possibilidade de mais duas altas de 1 ponto percentual nas próximas reuniões, o que levaria a Selic a 14,25% no início do próximo ano. “Foi uma decisão bem dura, o Banco Central foi bem firme na atuação da política monetária e deve ter impacto nos mercados nos próximos dias”, afirmou.
Para o CFO do Banco Mercantil, a postura mais hawkish – quando há uma relação de dureza com os juros – tem em vista a manutenção do compromisso do colegiado ao longo da transição entre Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo.
“A primeira leitura é de que o Banco Central está optando por um aumento maior de juros nesse momento, uma indicação que reforça uma preocupação com a inflação, que é o papel do Banco Central”, enfatiza Rodrigues.
Impacto no consumidor
A economista-chefe do Inter também abordou os impactos dessa alta de juros para a população e o consumidor.
O principal efeito será sentido no crédito, que tende a ficar mais caro e escasso tanto para empresas quanto para famílias. “O setor financeiro tende a ficar mais cauteloso com o aumento de um risco de inadimplência”, explicou.
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