O que houve com a economia alemã?

O que houve com a economia alemã?

No fim da década de 1940, através de oleodutos e reatores nucleares, a economia alemã iniciou o seu milagre econômico. Com esses investimentos, teve acesso ao petróleo norueguês e ao gás russo.

Ao longo dos anos, a economia alemã ficou muito dependente dos automóveis, dos produtos químicos e também das máquinas de engenharia mecânica.

Realizando reformas no mercado de trabalho que permitiram uma moderação salarial, utilizando gás barato da Rússia e flexibilizando o transporte marítimo e a logística de contêineres, aconteceu o milagre alemão moderno.

Esse modelo de crescimento econômico trouxe forte demanda de bens industriais alemães por parte dos países de rápido crescimento, especialmente China e Índia.

Isso permitiu que, mesmo tendo 85 milhões dos 500 milhões de habitantes da União Europeia, sua economia fosse 20% maior que a segunda maior economia da UE, o Reino Unido.

Segundo um relatório do Bundesbank, o banco central alemão, a economia da Alemanha deverá continuar estagnada no primeiro trimestre de 2025, após dois anos consecutivos de retração.

Quais as lições que podemos tirar da fragilidade econômica da Alemanha?

Precisamos voltar à década de 2010, quando a Alemanha intensificou a utilização do gás russo, reduziu o investimento em fibra óptica e infraestrutura digital e concentrou sua geração de riqueza nas exportações.

Assim, tornou-se *Exportweltmeister*, o “campeão mundial de exportações”, tendo a China como um grande parceiro comercial, principalmente devido ao fornecimento de gás russo barato para suas indústrias.

O modelo industrial alemão ficou excessivamente dependente dos automóveis, dos produtos químicos e das máquinas de engenharia mecânica, enquanto as economias ocidentais modernas se concentraram em fornecer serviços, e não em manufatura.

Mas o que aconteceu para os indicadores econômicos da Alemanha ficarem estagnados nos últimos anos?

Foram quatro grandes eventos que afetaram o modelo de crescimento alemão:

  • Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia);
  • As tarifas impostas por Donald Trump durante seu governo nos EUA;
  • A invasão da Ucrânia pela Rússia, que interrompeu o fornecimento de gás barato;
  • A ascensão da China, que de compradora virou concorrente direta da Alemanha.

Em outras palavras: geopolítica.

Como é possível se adaptar em um mundo de fortes mudanças geopolíticas?

A resposta é tecnologia.

Para muitos analistas, esse foi o erro da Alemanha. O país tem uma das piores redes de telefonia celular da Europa, ainda utiliza fax no Exército e nos consultórios médicos, e muitos lojistas só aceitam dinheiro em espécie.

Além disso, não há um projeto representativo no campo da inteligência artificial.

O foco da Alemanha permaneceu na indústria automotiva tradicional, vendendo veículos movidos a combustíveis fósseis, enquanto os consumidores passaram a preferir veículos elétricos de empresas como Tesla e montadoras chinesas, que se tornaram líderes nessa categoria.

Atualmente, a tecnologia digital é o principal desejo dos consumidores no setor automotivo, e a Alemanha não soube se adaptar.

Isso é um fato?

A Volkswagen, o maior empregador do setor privado alemão, ameaça fechar fábricas no país pela primeira vez em 87 anos de sua gloriosa história.

E qual a solução?

Segundo Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu e primeiro-ministro da Itália entre 2021 e 2022, a Europa precisa de um ambicioso projeto de investimentos na ordem de **800 bilhões de euros por ano** para manter sua economia dinâmica.

Esses investimentos seriam necessários para combater a “lenta agonia do declínio” da economia europeia.

Enquanto o crescimento econômico mundial no último século foi de 2,97% ao ano, a economia da zona do euro cresceu, em média, apenas **1,27% ao ano**.

Caso esses investimentos sejam feitos, a indústria deixaria de ser defasada e a atividade econômica poderia se recuperar.

Por isso, todos estão atentos ao resultado das eleições alemãs, pois qualquer transformação econômica na zona do euro dependerá da liderança da maior economia do continente.

Matheus Augusto

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